segunda-feira, 28 de maio de 2007


CASTELO DE VIDE EM 1758

(continuação)



Freguesia de Santa Maria da Devesa
(folhas 1481 a 1489)


Da parte do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo de Portalegre, meu senhor, me foi apresentado um memorial para informar sobre o que pertence saber desta terra e do mais que se expressa no dito papel, a que respondo o seguinte.

Castelo de Vide, vila de Portugal, fica no Alentejo. É da comarca e bispado da cidade de Portalegre, da qual dista duas léguas. É vila notável e nobre, com voto em cortes no banco onze.
Tem por armas um castelo cercado com uma vide. Dizem alguns que a estas armas e a este nome deu ocasião uma grande vide que teve o castelo. Querem outros com paronomásia que esta vila se chame “Castelo de Vide” porque divide Portugal de Castela, por está na raia em distância de duas léguas.
O castelo é obra de el-rei Dom Dinis e foi senhor dela o infante D. Afonso, seu irmão.
É de el-rei e é alcaide-mor desta vila o conde meirinho-mor do reino.
Está situada mais em monte do que em vale e menos em campina.
É praça de armas, cercada de muros bastantemente fortes. Tem neles quatro portas para entradas e saídas, que são: a porta da Aramenha, para as partes de Marvão e Portalegre; a porta Nova, para a parte de Castela; e as portas de São João e São Pedro, para as partes do reino. E esta porta de São Pedro é dentro do castelo. É este murado e fechado sobre si e está situado para a parte do Norte e há dentro dele mais de cento e cinquenta vizinhos e também a igreja de Nossa Senhora da Alegria, com um convento que mandou fazer Dona Mariana Eugénia, para nele viverem freiras franciscanas, o que não tem tido efeito, por se embargar depois de feito, por parte de el-rei, com o fundamento de estar próximo do armazém da pólvora, que está dentro do mesmo castelo e aos muros dele.
Consta esta minha freguesia de Santa Maria da Devesa, matriz desta vila de Castelo de Vide, de mil e cem vizinhos. E tem quatro mil pessoas de confissão e comunhão. Tem mais duas freguesias, que são a paroquial igreja de São João Baptista, que é da Malta, e a paroquial igreja de Sant´ Iago, a qual é de el-rei. E têm ambas priores que dirão o mais.
Desta vila, como fica em monte, se descobrem as vilas seguintes: a vila de Marvão, que dista uma légua; a vila de Nisa, que dista três léguas; a vila de Montalvão, que dista quatro léguas; a Póvoa das Meadas, que dista duas léguas; a vila de Castelo Branco, que dista dez léguas; o lugar de Sant´ Iago, do reino de Castela, que dista cinco léguas. E para a parte do poente nada se descobre, por razão da serra de São Paulo, que impede a vista por ser muito alta e próxima a esta vila para o Poente.
Tem termo que confina com o de Portalegre em menos distância desta vila meia légua. Confina com o de Marvão em distância de meia légua. Com o de Castela em distância de duas léguas, sendo a divisa um rio chamado o Sever. E confina com o da vila de Alpalhão em distância de légua e meia e com o de Nisa na mesma distância. E com o da Póvoa na mesma distância.
Esta paróquia está dentro da vila, é a matriz. É o seu orago Nossa Senhora ou Santa Maria da Devesa, a qual está hoje arruinada, não pelo terramoto do ano de 1755, mas por muito velha. E pretendendo-se concertar, se conheceu seria inútil o concerto e cuida-se em se demolir para se fazer igreja nova, respectiva à multidão dos vizinhos.
Compunha-se de três naves com capela-mor e altar-mor e altar do Sacramento, altar de Nossa Senhora do Carmo, altar de Nossa Senhora do Rosário, altar do Santo Cristo, altar do Anjo da Guarda, altar de Nossa Senhora da Boa Morte e altar das Almas e altar de Santa Luzia, que por todos são nove altares. Tem de presente seis irmandades, a saber: a de Nossa Senhora da Assunção, que é dos clérigos; a do Sacramento; a de Nossa Senhora do Carmo; a de Nossa Senhora do Rosário; a das Almas; a de Nossa Senhora da Boa Morte.
É esta igreja do padroado real. Sua Magestade é quem apresenta. É o pároco vigário, tendo tanto trabalho por ser esta freguesia das maiores da província do Alentejo. Só tem de côngrua cinquenta mil réis, que são pagos pela comenda, e é o seu comendador o Excelentíssimo Marquês de Tancos.
Tem quatro beneficiados, os quais apresenta o Excelentíssimo Senhor bispo de Portalegre, e são pagos pela oitava parte dos dízimos, e lhe dará a renda anualmente em cinquenta ou sessenta mil réis. Não têm pensão de clero e só a de paroquiarem as semanas, alternativamente com o vigário, que sempre serve em todas.
Tem dois conventos: um dos recoletos da Ordem de São Francisco; e outro que é o hospital de São João de Deus, em que tão somente se curam os soldados, à custa de el-rei. E do convento de São Francisco é padroeir[a] a Câmara desta vila.
Tem Casa da Misericórdia com hospital para se curarem os pobres. E tem de renda mais de seiscentos mil réis.
Tem um forte muito bem murado, a que se chama o forte de São Roque, dentro do qual só está a igreja deste santo, que é advogado da peste. E é festejado pelos vizinhos e é guardado pelos soldados com guarda quotidiana. Está situado para a parte do Sul.
Tem mais esta vila uma igreja no distrito desta minha freguesia chamada a Colegiada do Espírito Santo, em que rezam em coro sete beneficiados, que terão de renda cinquenta e cinco mil réis em cada ano, pouco mais ou menos, e um tesoureiro a quem se dá vinte. Instituição de Nicolau de Matos e Brites de Jesus, hoje é padroeiro Paulo Nogueira de Andrade, da cidade de Lisboa. Tem altar-mor esta igreja, tem altar de Santo Estêvão, tem altar de São Marcos, tem altar de Nossa Senhora da Conceição, que é da irmandade dos militares desta praça, onde hoje se acha a freguesia de Santa Maria, matriz, pela ruína e lhe ser esta filial. E não tem naves.
Fora dos muros, tem: a ermida de Nossa Senhora dos Remédios, de abóbada, com um altar; a ermida de São Vicente Ferrer, com um altar; a ermida de Nossa Senhora da Vitória; a ermida de Nossa Senhora do Carmo; a ermida do Bom Jesus, de Pero Galego; a ermida de Santo Amador, que dista uma légua para as partes de Castela, a quem se faz festa em uma oitava da Páscoa, e se faz procissão das Almas por estarem ali enterrados muitos castelhanos, que morreram em choque que tiveram com os portugueses nas guerras passadas, de que ainda hoje se diz “a derrota de Santo Amador” e por isso se faz a comemoração das Almas.
(continua)

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