sexta-feira, 18 de julho de 2008

DIÁLOGO ENTRE DOIS JOVENS
NA COLHA DA AZEITONA

Versão de Fortios (concelho de Portalegre). Transcrição de Ruy Ventura.

"De cima desta oliveira, vou-te fazer uma procura.
Diz-me cá, ó cantadeira, se a azeitona está madura."
"Valha-te Deus criatura, o que me vens procurar.
Uma mole outra mais dura, toda se tem que apanhar."
"Vai toda para o lagar para fazer azeite fino,
Para o Senhor se alumiar no sagrado altar divino."
"Eu já vi que és muito fino, percebo a tua intenção.
Põe a escada bem a pino, não deites ramos para o chão."
"Devagar se corre a mão, bem firme se põe a escada.
É Inverno, não é Verão, os ramos têm geada."
"Eu estou quase engadanhada, mas ao lume posso ir.
Para cantar à desgarrada, estou aqui para te ouvir."
"Contigo quero discutir para que tu me compreendas.
Não penses que eu vou cair nas malhas da tua renda!"
"A cantar nunca me ofendes, nem queiras imaginar.
Se és vendedor de fazendas, eu não te quero comprar."
"Vamos ter que mudar deste para outro olival.
Temos os panos a dobrar, já se não levam tão mal."
"O encarregado geral já deu ordem de partida.
Se a azeitona for igual, temos uma fega comprida."
"Azeitona bem miúda, fica depois em bagaço.
Cantando se leva a vida, é mais uma quadra que faço."
"Já vou sentindo cansaço de andar com escadas às costas.
Com o meu desembaraço, vou-te arranjando as respostas."
"Por aquilo que demonstras, vejo a tua dignidade.
Já vi que de mim não gostas, cantemos por amizade."
"Para te dizer a verdade, não tenhas essa ilusão.
No cantar não há maldade, no trabalho também não."
"Vamos pedir ao patrão que nos dê acabamento:
Café, fatias e pão, vinho, tomate e pimento."
"E um bailarico, lá dentro do quintal da laranjeira.
Para nosso divertimento nós fazemos a bandeira."

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