sexta-feira, 4 de dezembro de 2009




IGREJA DE SÃO PEDRO
(Alegrete, Portalegre)


Segundo uma velha lenda conhecida na região, a igreja de São Pedro terá sido na Idade Média a primeira sede paroquial de Alegrete. Se fizermos fé nesta hipótese, ela remontará então ao século XIII, a tempos anteriores ao reinado de D. Dinis, responsável pelo foral dado a Alegrete e pelo urbanismo gótico do espaço situado dentro das muralhas desta vila, antiga sede de concelho, hoje integrada no território de Portalegre.
A construção arruinada que hoje podemos observar não deverá no entanto ir além de finais do século XV, como confirma Luís Keil (cf. Keil, 1943: 150), tendo sido alvo de remodelações nas centúrias seguintes.
A igreja é constituída por galilé, nave, capela-mor e sacristia. Teve ainda uma pequena sineira (de que não restam quaisquer vestígios), como parece indicar um dos sinos existentes na torre do relógio de Alegrete, datado de 1668 e dedicado a São Pedro.
A galilé possui arcos de volta inteira em alvenaria. Deve ser obra de meados do século XVI, embora existam ainda vestígios de uma construção anterior com a mesma função.
A entrada na igreja faz-se por um portal em arco de asa de cesto, em granito aparelhado, com esquinas chanfradas. É ladeado por duas pequenas janelas e sobrepujado por outra de maiores dimensões.
A capela-mor é o espaço mais interessante desta igreja. O arco do cruzeiro é de volta perfeita assente sobre pilastras, em granito aparelhado, co
m esquinas chanfradas, arrancando de impostas decoradas com motivos vegetalistas (quadrifólios) e antropomórficos. É coberta por uma abóbada de berço, com sanca saliente, inteiramente decorada com esgrafitos imitando os tectos apainelados. Possui no centro uma pintura em tons de ocre, posterior, representando um brasão com os atributos de São Pedro (as chaves). Esta parte da igreja foi, até à Primeira República, em grande parte coberta por azulejos de tapete, azuis e amarelos, de que restam hoje apenas parcos vestígios. Com a retirada dos mesmos foi posto a descoberto um importante conjunto de painéis em pintura mural, representando maioritariamente passos da vida do padroeiro da igreja. A decoração mural ocupava a totalidade das paredes laterais e estendia-se ainda à parede fundeira desta capela, onde - para além da banqueta do altar - se situava o nicho que albergava a imagem de São Pedro, sobrepujado por um óculo, hoje cego.
No corpo da igreja existem restos de dois pequenos retábulos colaterais, elaborados em alvenaria, dentro do estilo comum na região durante o século XVIII, na linha do barroco / rococó populares. Esta parte do templo era coberta por um tecto de madeira, hoje desaparecido com o púlpito, de que restam ainda vestígios. É possível que as paredes laterais desta parte do edifício tivessem também decoração em pintura mural, entretanto coberta pela cal, que ainda subsiste. A entrada lateral para a nave, situada à direita de quem olha para a capela-mor, é guarnecida no exterior por um pequeno pórtico em cantaria com arco abatido e esquinas chanfradas, típicos do século XVI, em cujo alinhamento existe ainda uma cruz esculpida em granito.
A igreja de São Pedro, aberta ao culto até ao início do regime republicano, foi em grande parte destruída e vandalizada nas décadas seguintes. Quando em 17 de Março de 1945 se lavrou o auto de entrega e restituição deste templo à comissão fabriqueira da paróquia de Alegrete, estava já "em completo estado de ruinas" (Maçãs, 1991: 26). Os azulejos do século XVII tinham desaparecido em mãos desconhecidas. O restante recheio fora recolhido na igreja paroquial.

A mais notável de todas as peças pertencentes a esta igreja é a imagem do padroeiro, hoje venerada no antigo altar de São Miguel na igreja matriz de Alegrete. Envolta em lendas, certamente relacionadas com a sua beleza escultórica, era considerada em 1758 como "Angelical" (Rebello, 1758 in Ventura, 1995: 100). Trata-se de uma imagem sedente de São Pedro investido na função papal, escultura gótica em mármore policromado, datada de finais do século XV, segundo proposta de Luís Keil (cf. Keil, 1934: 150).

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostaria muito que restaurassem esta Igreja. é uma grande perda para a fé cristã e para a fé universal. Invistam na fé universal e nos centros religiosos com mais significado. Sei que existe um plano municipal que contempla a recuperação desta igreja desde, +- 2000, 2001. A camâra municipal de Portalegre só iria beneficiar desta iniciativa como um complememnto do "circuito turístico" de Alegrete. Faço um apelo ao PATRIARCADO para esta recuperação urgente.

Anónimo disse...

Se já esteve nesta igreja reparou que foram aplicado azulejos em cima de pinturas. Porque é que isso aconteceu?

Pesquisar neste blogue

Etiquetas

Arquivo do blogue

PORTALEGRE: CLASSIFICAR PATRIMÓNIO, APAGAR PATRIMÓNIO             Segundo noticiou o jornal “Alto Alentejo”, na sua edição ...