quinta-feira, 21 de janeiro de 2010


Aspecto da nave da igreja



Vista parcial da nave



Retábulo da capela de Santo António



Retábulo da capela de Nossa Senhora da Encarnação




Retábulo colateral



Retábulo colateral



Retábulo da capela-mor


Castelo de Vide:
interior e retábulos da igreja de Sant' Iago Maior

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010



Vista aérea da igreja



Capela-mor com seu retábulo e revestimento de azulejos



Aspecto da pintura mural do tecto da capela-mor


Púlpito


Monte da Penha de São Tomé (Portalegre):
igreja de Nossa Senhora da Penha





Atalaião (Portalegre):
retábulos da igreja de São Cristóvão

Fonte: http://www.monumentos.pt/Monumentos/forms/002_B1.aspx

Ribeira de Nisa (Portalegre):
igreja de Nossa Senhora da Esperança
retábulo principal e colaterais
dedicados a Santo António e Nossa Senhora de Fátima (antigamente São Brás)







Fortios (Portalegre):
igreja de São Sebastião
retábulo da capela-mor





Reguengo (Portalegre):
igreja de São Gregório Magno
retábulos laterais dedicados a Santo António e a Nossa Senhora dos Remédios




Reguengo (Portalegre):
igreja de São Gregório Magno
retábulo da capela-mor

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Retábulo lateral

Retábulo principal (pormenor)


Retábulo principal


Igreja da Misericórdia
(Alegrete)


Retábulo da capela de Nossa Senhora da Alegria



Retábulo da capela-mor



Vista dos retábulos da nave lateral norte



Vista da nave central

Igreja de São João Baptista
Lenda da Fonte do Martinho

(Castelo de Vide)



Versão de Castelo de Vide, contada por Maria Francisca, recolhida e publicada por Maria Guadalupe Transmontano Alexandre (1976) – Etnografia, Linguagem e Folclore de Castelo de Vide, Viseu, Junta Distrital de Portalegre: 61 – 62.



Havia uns reis que tinham uma filha que andava a namorar.
Como o pretendente à mão da princesa não era do agrado dos pais, eles resolveram encantá-la no lago do Martinho, o que fizeram de noite.
Simplesmente não viram que a um canto da fonte estava uma mulher agachada.
Como não havia relógios, ela levantou-se para ir lavar, julgando que era mais tarde.
Entre a meia-noite e a uma hora chegaram ao lago três pessoas: pai, mãe e filha.
Depois de ser confiada à princesa uma grande riqueza (deram-lhe dinheiro), foi encantada com a recomendação de oferecer o tesouro a quem a desencantasse.
Ao outro dia, logo a mulher que assistira à cena foi à fonte e bradou pela menina.
Esta acudiu, foi desencantada e disse-lhe:
“A tua riqueza podia ser a dobrar se tivesses esperado mais três ou quatro anos.”
Lenda da Fonte dos Cães

(Castelo de Vide)



Versão de Castelo de Vide, recolhida e publicada por Maria Guadalupe Transmontano Alexandre (1976) – Etnografia, Linguagem e Folclore de Castelo de Vide, Viseu, Junta Distrital de Portalegre.



Contava-se que uma noite vindo um rapaz de namorar, resolveu dessedentar-se.
Quanto o fazia apareceu-lhe um homem que lhe disse:
“Então estás a beber as sobras da minha cozinha?”
Como o moço se mostrasse espantado logo o levou junto de uma placa de pedra por cuja argola puxou.
Apareceu uma escada de mármore por onde desceram e que dava acesso a um maravilhoso palácio.
Após a visita o estranho homem disse:
“Se quiseres ganhar todas estas riquezas só terás de vir amanhã à meia-noite. Há-de aparecer um touro e tu hás-de-lhe aparar três sortes.”
Ao outro dia o rapaz na mira de enriquecer de um momento para o outro ter-se-ia deslocado à fonte à hora combinada, onde viu o touro que investiu nele.
Aguentou a primeira e a segunda investidas, mas cheio de medo desistiu à terceira.
Então ouviu uma voz dizer:
“Ah! Ladrão! Que me dobraste o encanto!...”

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Lendas do convento da Provença

(Ribeira de Nisa)


1


Versões de Ribeira de Nisa (Portalegre), recolhidas e publicadas por Maria Tavares Transmontano (1989) – Subsídios para a Monografia da Ribeira de Nisa (Concelho de Portalegre), Portalegre, Edição da Autora: 37 – 38.



Na manhã de S. João, aparecia ao pé da fonte uma menina com um tabuleiro de nozes, que as oferecia a quem a visse. Como ninguém aceitasse partir uma só noz, ela permanece encantada até que alguém numa manhã de S. João lhe quebre o encanto. Se acaso ninguém a visse, deixava na terra as suas pegadas.



Que também ao pé do tanque um homem viu uma serpente que procurava lamber-lhe as mãos, para assim se desencantar.



Também no velho convento, dentro de uma pedra que tinha letras que ninguém entendia, havia um encanto. Para quebrarem esse encanto, foram três homens, os quais riscaram no chão um quadrado, acenderam três velas, e começaram a ler o livro de S. Cipriano. O que aconteceu ao lerem o primeiro capítulo, não se lembrava a pessoa, mas ao lerem o segundo, o mato começou a crescer dentro da casa, e as velas apagavam-se e acendiam-se por si. No último capítulo ouviram um barulho medonho vindo do interior da pedra, bem como uma voz que dizia:

- “Não tenteis tirar o encanto, senão morrereis.”

Os homens não fizeram caso, mas o barulho cresceu como se fossem montanhas a cair, e eles fugiram cheios de medo.



2

Versão com proveniência desconhecida. Publicada em  http://209.85.229.132/search?q=cache:N8wUMLlkKqsJ:www.cm-portalegre.pt/page.php%3Ftopic%3D20+%22lenda%22+%22portalegre%22&cd=2&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt (página consultada em 14/1/2010).

Perto da Ribeira de Nisa ficam as ruínas de um convento, que se situa numa propriedade que deve ter pertencido ao pai de Nuno Álvares Pereira.

Aí, diz-se que na noite de São Pedro aparece uma moura com um tabuleiro com nozes e que as oferece à pessoa que encontrar.

No entanto, ninguém se atreve a tirar uma noz, porque se acertar em determinado fruto ficará rico, mas se não acertar será mordido por uma serpente.
Lenda da Fonte do Capitão

(Ribeira de Nisa)



Versão de Ribeira de Nisa (Portalegre) contada por Aníbal Candeias Tavares (n. 1973) cerca de 1986. Recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 33.



Nas hortas ao pé da Fonte do Capitão anda de há muito uma moura encantada. Em dias certos aparece ao povo com um tabuleirinho de passas, mas nunca ninguém as quis comer. Só no dia em que isso acontecer é que ela será desencantada.
Lenda da Serra de Frei Álvaro

(Ribeira de Nisa)



Versão de Ribeira de Nisa (Portalegre) contada por Aníbal Candeias Tavares (n. 1973) cerca de 1986. Recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 32.



Na serra de Frei Álvaro está uma serpente verde muito velha que é um encantamento. Quem conseguir quebrá-lo encontrará um tesouro.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Lenda do tesouro da igreja de São Domingos

(Fortios)



Versão de Fortios (Portalegre), recolhida em finais do século XVI ou princípios do século XVII por Diogo Pereira Sotto Maior (1984) – Tratado da Cidade de Portalegre, (introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins), Lisboa, INCM / Câmara Municipal de Portalegre: 42.



[M]e deixeram alguns velhos daqueles montes que se tem por tradição antiga haver naquele lugar (aquém os mouros chamam S. Domingos da Penha) o maior tesouro junto que há no mundo, porque afirmam estarem dous sinos muito grandes enterrados ao pé de ũa figueira alvar, cheios de ouro amoedado […].
Lenda da moura dos Fortios




Versão de Fortios (Portalegre), recolhida (em 1984) e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para uma Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 133 – 134.



Dizem que um moço, ao voltar do namoro, passou por uma velhinha com um tabuleiro de passas, que lhe disse:

- “Tire uma passinha.”

Ele recusou, ela insistiu, e ele tirou duas passas. Quando já tinha andado um bom bocado de caminho, lembrou-se de comer uma passa, mas ficou espantado ao encontrar duas moedas de ouro. Voltou ao sítio onde tinha encontrado a velha, e ali encontrou o tabuleiro com meio braço humano. Pensando no ouro levantou o meio braço, e então ouviu tantos gemidos e tão fortes, que faziam tremer o chão.

Largou-o cheio de medo.
Lenda do tesouro da Serra de São Mamede




Versão de proveniência desconhecida, recolhida e publicada por Maria Tavares Transmontano (1994) – “Serra de São Mamede”, in Sol XXI – Revista Literária, Lisboa, nº 11, Dezembro: 80.



[C]onta[-se] […] que há na Serra um sino de ouro, que já tem o pé gasto das cabras lhe passarem por cima.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Lenda da Moura do Reguengo

(Reguengo)



Versão de Reguengo (Portalegre), recolhida por Manuel António Sequeira e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para a Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 132 – 133.



Ao lado da ermida de S. Mamede nasce um ribeiro chamado da Azenha Queimada. Desde de socalco em socalco, até despenhar-se de cascata em cascata, sobre uma massa rochosa, com metro e meio de profundo, um de largura e dois de comprimentos.

A lenda diz que está ali uma moura encantada.

As mulheres diziam com convicção que em certos dias viam olhos de azeite e bocadinhos de alface à superfície da água.

Certo dia, um homem que vinha dos lados da ermida passou junto à cova da moura, e viu uma jovem duma beleza que nunca tinha visto. Tão surpreendido ficou, que mal lhe disse: “Deus te salve”.

A jovem disse-lhe:

“Sei que és boa pessoa, e a tua mulher também. Leva-lhe este cinto para ela usar.”

O homem agradeceu, e pôs-se a caminho. Ao entrar no souto da Quinta da Relva, deparou com um castanheiro que tinha uma pernada quase a tocar no chão. Resolveu pôr o cinto em volta dela, para ver o efeito que iria causar, quando a mulher o pusesse. De repente, o ramo onde tinha posto o cinto partiu-se. E o homem repetiu: “Meu Deus, se o tivesse posto à minha mulher!”

Imediatamente ouviu a moura dizer:

“Ingrato, que dobraste o meu encanto!”

O homem fugiu cheio de medo.

Diz a lenda: se o homem tivesse levado o cinto e a mulher o tivesse posto, nesse momento quebrava-se o encanto da moura, seguindo ela o seu destino.

Assim, ficou novamente a moura encantada, até que se lhe depare nova oportunidade.
Lenda da Pedra da Moura

(Caia, Urra)



Versão, de proveniência desconhecida, recolhida por Maria Guadalupe Transmontano Alexandre e publicada por Ruy Ventura (2005) – Contos e Lendas da Serra de São Mamede, antologia breve, Almada, Associação de Solidariedade Social dos Professores: 102.



No sítio em que o rio Caia se aproxima da ribeira de Arronches, fica uma grande pedra que está sempre rodeada por água. Nela está uma moura encantada.

O pai da moura, que era rei, queria que ela casasse com um nobre escolhido por ele, mas a princesa não quis casar, porque gostava de um príncipe mouro que estava na guerra. Por isso foi encantada na pedra.

Nas noites de São João, a moura senta-se na pedra a cantar canções delicadas ao jovem guerreiro.

Quem passar nessa noite pela pedra da moura, morre. Mesmo quem não acredita na lenda não passa pela pedra da moura na noite de São João.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lenda da igreja de São Sebastião

(Carreiras)



Versão de Carreiras (Portalegre), recolhida e publicada por Ruy Ventura (1993) – “Notas Histórico-Etnográficas sobre a Freguesia das Carreiras – A igreja paroquial”, in O Distrito de Portalegre, de 1 a 22 de Janeiro.



Segundo a lenda, junto à porta principal d[a] igreja de São Sebastião das Carreiras, estão enterrados, lado a lado, dois potes: um cheio de ouro, outro cheio de veneno. Segundo o povo, quem, ao tentar desenterrá-los, encontrar primeiro o que contém o dinheiro em ouro, ficará rico, caso contrário morrerá imediatamente.
Lenda da imagem do Mártir Santo

(Carreiras)



Versão de Carreiras (Portalegre), contada em 1992 por Ana Fernandes Martins (n. 1913), recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 38.



Diziam as pessoas antigas que há muitos séculos um cabreiro achou entre umas rochas (no local onde hoje são as Carreiras) uma imagem do Mártir Santo em pedra. Como morava lá para o pé do Veloso, onde era antigamente o povo, resolveu colocar aí o santo. Só que, no dia seguinte, ele estava de novo entre as pedras da serra. O cabreiro tentou levá-lo de novo, mas ele voltava sempre. Então as pessoas fizeram uma ermida a São Sebastião, no local onde a sua imagem tinha aparecido.

Anos passados, começaram a construir casas neste sítio, e assim nasceu também a aldeia.
Lenda da fundação de Carreiras




Versão de Carreiras (Portalegre) contada por Ana Fernandes Martins (n. 1913) em 1992. Recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 25.



A aldeia das Carreiras foi feita pelos moradores da cidade da Aramenha. Há muitos, muitos anos, quanto aquele povo foi arrasado pelos mouros, as pessoas tiveram que abandonar as suas casas: umas fugiram para Marvão e fundaram lá a vila; outras vieram para este lado da serra e aqui fundaram a nossa terra. Diziam os antigos que tiveram que vir às carreiras (a fugir), e por isso deram à aldeia o nome que hoje tem.
Lenda da Herdade da Cabaça

(Portalegre)



Versão de Portalegre, registada em 2001 por Rita de Jesus Cordas Barroqueiro (n. Reguengo, 1934) e transcrita por Ruy Ventura (2005) – Contos e Lendas da Serra de São Mamede, antologia breve, Almada, Associação de Solidariedade Social dos Professores: 87.



Em tempos não muito distantes no olival da herdade da Cabaça era dado o azeite para a capela de Nossa Senhora do Socorro, para iluminar a santinha todo o ano.

E quando mudou o dono, deixaram de dar o azeite para a capela. No ano seguinte as oliveira, em vez de darem azeitona, deram bagas vermelhas e as folhas ficaram com o feitio das folhas das beldroegas.

Assim continuaram por alguns anos a dar bagas vermelhas.

Então os donos voltaram a dar o azeite para a capela de Nossa Senhora do Socorro. No entanto as oliveiras nunca mais voltaram a dar azeitona como davam dantes. E passados tantos anos ainda em algumas oliveiras aparecem folhas e bagas esquisitas.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Lenda da Serra da Penha

(Portalegre)


1

Versão de Portalegre, recolhida (em 1984) e publicada por Maria Tavares Transmontano (1997) – Subsídios para uma Monografia de Portalegre, Portalegre, Câmara Municipal de Portalegre: 136.



Conta-se que nesta Serra, muito próximo da cidade, um feiticeiro encantou uma princesa moura e a transformou em rochedo. À noite ela sai, e do alto brada pelo pai. Quem conseguir entrar pelo buraco, sem que a cobra que a guarda o veja, casa com a princesa, que dizem chamar-se Catarina.



2



Versão de proveniência desconhecida, talvez de Portalegre. Publicada em: http://209.85.229.132/search?q=cache:N8wUMLlkKqsJ:www.cm-portalegre.pt/page.php%3Ftopic%3D20+%22lenda%22+%22portalegre%22&cd=2&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt (página consultada em 14/1/2010).


Dizem que há muitos anos os mouros moravam na Rua da Mouraria. Um dia em que estavam em guerra com outro povo, um rei mouro fugiu para a Serra da Penha, e se escondeu ali com os fidalgos, as jóias e uma filha.

Mas o outro rei descobriu-o e foi para a Serra para o matar.

Então, o rei para salvar a filha encantou-a e ela ficou escondida com as jóias, numa gruta que ali se encontrava. Ainda hoje chamam a essa gruta "A Cova da Moura".

Algumas pessoas mais velhas dizem que nas noites de luar se via uma princesa vestida de tule branco passando no alto da Serra a chorar com saudades dos pais, que viu a matar, sem os poder ajudar.


3

Versão literária escrita por António Torrado: http://www.historiadodia.pt/pt/Historias/05/23/imprimir.pdf



Um chefe mouro, reconhecendo que não tinha tropas que chegassem para enfrentar um aguerrido exército invasor dos seus domínios, abandonou o amuralhado da cidade e refugiou-se com a família e a corte nos brejos da serra. Carregadas por escravos iam, no meio do apressado cortejo em fuga, as arcas cheias de tesouros, para serem depostas em lugar seguro, longe da cobiça dos agressores.
Mas um escravo escapou-se do emboscado acampamento e foi avisar o comandante inimigo. A partir daí, já nada podia salvar os foragidos. Ouvindo o grito da soldadesca que, de lanças e alfanges em punho, trepava as faldas da montanha, o chefe dos sitiados percebeu que ele e os seus não podiam esperar clemência. Chamou de parte a sua filha, linda menina moura, e disse-lhe, contendo as lágrimas:
- Tu és a jóia mais preciosa dos meus tesouros. Junto deles vou encantar-te, para que nenhumas mãos impuras aflijam a tua inocência.
E assim fez. Ele, que tinha poderes mágicos, transformou a filha e as arcas carregadas de riquezas em pedras de uma gruta. Depois, ainda tentou usar da mesma magia para ele próprio e os seus mais próximos, mas já não foi a tempo. Uma lança interceptou-lhe as palavras mágicas que ia proferir.
Contam os mais velhos que aquele sítio se chama Cova da Moura, porque, em noites de luar, ainda há quem veja a menina vestida de branco, a andar sem rumo pelo alto da serra. Ouvem-na lamentar-se em língua estranha e chorar os pais e a felicidade que perdeu. Impressão será ou o sussurro do vento pelo meio da folhagem dos castanheiros...
Seja do que for, os mais velhos acreditam que a moura encantada da Serra da Penha guarda arcas e arcas de tesouros por desencantar. Vale a pena ir lá de propósito, em passeio, que mais não seja porque do alto da colina, onde a meio da encosta, alveja uma ermidinha, se abrange todo o casario da cidade
de Portalegre, o perfil do Castelo, as torres da Sé e, longe, a Serra de S. Mamede e a imensa planura alentejana. É outra forma de encantamento.
Lenda da fundação de Portalegre




Versão de proveniência desconhecida, recolhida em finais do século XVI ou princípios do século XVII por Diogo Pereira Sotto Maior (1984) – Tratado da Cidade de Portalegre, (introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins), Lisboa, INCM / Câmara Municipal de Portalegre: 45.



[U]m Vesperaldo, nobre cavaleiro e fidalgo, que era de nação inglês, ou de Bretanha, veio a estas partes da Lusitânia e, chegando a este sítio, se apousentou em o alto de um outeiro, por cima do mosteiro de Sam Francisco, onde agora está S. Cristóvão, e neste lugar edificou ũa fortaleza que não devia ser muito pequena, conforme o mostram suas ruínas, porque ainda parecem pedaços de muros e isquinas de torres.

Ali dizem que edificou aquela ermida e nela fez muita penitência, e dizia que este foi o primeiro edifício que houve nesta cidade.
Lenda da Maia

(Portalegre)



Versão literária, de proveniência desconhecida, publicada na Grande Enciclopédia Portuguesa-Brasileira, volume II: 551. [Divisão em parágrafos da nossa responsabilidade.]



[D]epois de em vão procurar um recanto onde pudesse acabar os restos da tormentosa vida que levara, Lísias, filho ou capitão de Baco – alguns querem também que fosse Lísio ou Líseo, filho de Sumule – já de avançada idade, ali foi ter 1300 anos a. C. e, achando-o do seu agrado, a este local se acolheu e com sua gente o povoou, edificando-lhe um forte e templo, consagrado a Dionísio ou Baco, seu deus, e dando à serra o nome de uma sua filha chamada Maia. Ali vivendo em paz e liberdade, apascentando os gados e cultivando os campos, de cujas sementes e frutos se alimentava […]. Estava o referido templo no local onde actualmente se ergue a ermida de S. Cristovão, a cujo sopé corre um arroio, que pelas gentes é conhecido pelo ribeiro de Baco.

Ora reza a tradição que nas margens deste pequeno ribeiro se encontrava a malhada da pastora Maia – filha de Lísias – que pela sua bondade e formosura era adorada por todos quantos a rodeavam. Levava uma vida alegre e pacífica, guardando o rebanho de brancas ovelhas e encontrando-se diariamente em Tobias, que idilicamente e junto a ela se quedava horas sem fim, tocando na sua flauta pastoril.

E, assim, feliz e descuidadamente decorria o viver dos dois jovens, até que Dolme, um miserando que por ali vagabundeava, embalado pelos toques maviosos da flauta de Tobias e entusiasmado pelos dotes físicos da linda Maia, numa tarde primaveril interrompeu os dois pastores, amedrontando-os com a sua aparição. Foi Tobias esconder-se atrás de um rochedo, enquanto que, levantando-se como que envergonhada, Maia fixa no chão os seus formosos olhos. Mas levada a isso pela doçura do seu coração e, possivelmente, para assim quebrar os instintos maus que adivinhava no intruso, desce para a borda do ribeiro, enche a sua cabacinha e bondosamente lhe oferece de beber a cristalina água que nela recolhera. Finge Dolme aceitar a gentil oferta mas, ao recebê-la, propositadamente deixa cair a cabaça e em seus musculosos braços tenta enlaçar a jovem que, estupefacta com tal gesto, aflitivamente chama por Tobias. Acorre ele e com Dolme trava sanguinolenta luta, que só termina quando este crava no peito do pobre rapaz o machado de pedra de que vinha munido, arremessando-o já moribundo de encontro aos rochedos. Horrorizada pretende Maia fugir mas não o consegue, pois Dolme a agarra e só a larga depois de ser cadáver.

Desceu a noite nas abas daquela serra e Maia não voltara à malhada, pelo que, tardando-lhe o regresso, o velho pai a procura por toda a parte. Sobe aos outeiros vizinhos e chama repetidas vezes, mas o seu chamamento fica sem resposta. Assustadamente corre à malhada e, acendendo um toco de pinho, vai em procura da desaparecida. Passados instante o cão uiva lugubremente junto do cadáver da formosa Maia e o pobre pai, correndo para o pé do animal e deparando com a filha descomposta e morta, mede a grandeza da tragédia havida e instantaneamente perde a razão.

Durante sessenta luas por ali arrasta a sua triste vista, acocorado junto à malhada, onde julga ver aparecer a filha guardando as ovelhas, agora sem pastora. E, durante esse espaço de tempo, não pronuncia senão o nome de Maia, ele a quem os viandantes passaram a tratar pelo louco de Baco. Ao cabo de tão tormentoso sofrimento, ao velho ancião se afigura certo dia o aparecimento da filha que, sã e escorreita, lhe estendia os braços e, então, num fugidio lampejo de alegria, exclama:

“Maia, minha filha, morro feliz.”

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Lenda da Cova da Moura

(Porto da Espada, Aramenha)



Versão de Porto da Espada (Marvão), recolhida e publicada por Maria Tavares Transmontano (1979) – Subsídios para a Monografia do Porto da Espada […] (Concelho de Marvão), Viseu, Junta Distrital de Portalegre: 25.



Em tempos que já lá vão, em vésperas da manhã de S. João, chegou à porta duma mulher, que morava perto da Cova da Moura, um homem que lhe pediu pousada.

Como a mulher lha cedesse, depois de cear, pendurou o bornal que trazia numa estaca de madeira na parede interior da chaminé, foi deitar-se, e logo adormeceu.

O mesmo não sucedeu à dona da casa que, cheia de curiosidade, logo que a ocasião lho permitiu, levantou-se e foi abrir o bornal. Como nele estavam três bolos, quis prová-los, cortou um, tendo o cuidado de o pôr sob os outros. À madrugada o cavaleiro levantou-se, pegou no bornal, e dirigiu-se à Cova da Moura onde estavam três irmãs encantadas.

À primeira deu-lhe um bolo que se transformou num cavalo, que partiu a galope levando-a para a Mourama.

À segunda aconteceu o mesmo que à primeira, e à terceira, cheio de surpresa, deu-lhe o bolo partido que se transformou num cavalo coxo que a não pode levar com rapidez antes do sol nascer para junto das irmãs, e por isso ali ficou eternamente encantada, esperando em cada manhã de S. João o cavaleiro que nunca mais apareceu!...
Lenda do Porto da Espada (Marvão)




1

Versão de Porto da Espada (Marvão), recolhida e publicada por Maria Tavares Transmontano (1979) – Subsídios para a Monografia do Porto da Espada […] (Concelho de Marvão), Viseu, Junta Distrital de Portalegre: 16.



[D]iz a lenda que, em tempos idos, se travou [no Porto da Espada] batalha entre Mouros e Cristãos. Tendo os últimos chegado ao sítio do Porto, disseram:
- “Aqui se puxa da espada”.
Há ainda outra versão:
- “Desde o Porto da arrancada, até ao desembainhar da espada”.




2

Versão de Carvalhal (Marvão), contada por Ângela Gonçalves, de 78 anos, em 1996. Recolhida e publicada por Ruy Ventura (1996) – “Algumas Lendas da Serra de São Mamede”, separata de Ibn Maruán – Revista Cultural do Concelho de Marvão, nº 6, Dezembro: 39.



Se tu visses o que eu vi,
Fugias como eu fugi.
Desde o Porto da arrancada
Até ao puxar da espada
Cem homens mortos eu vi.
Lenda da Escusa (Marvão)




Versão de Porto da Espada (Aramenha, Marvão), recolhida e publicada por Maria Tavares Transmontano (1979) – Subsídios para a Monografia do Porto da Espada […] (Concelho de Marvão), Viseu, Junta Distrital de Portalegre: 16.



[Diz-se que] S. Tiago […] viera [ao Porto da Espada] com os Cristãos perseguir os Mouros, e ao passar pela Escusa de hoje, tivera dito:
- “Ali se escusa de ir.”
Lenda das Santas da Aramenha



Versão de proveniência desconhecida, recolhida em finais do século XVI ou princípios do século XVII por Diogo Pereira Sotto Maior (1984) – Tratado da Cidade de Portalegre, (introdução, leitura e notas de Leonel Cardoso Martins), Lisboa, INCM / Câmara Municipal de Portalegre: 37.



Teve esta cidade rei em tempos que os Romanos senhoreavam a Espanha. Um se chamou Catélio e sua mulher se chamava Cálgia, da qual nasceram nove filhas, todas de um ventre; que, enfadada a mãe com tantas filhas, com era gintia, as mandou deitar no rio por uma criada sua que, compadecida da piedade natural, que faltara na mãe que as havia parido, as deu a criar em um bairrio onde vivia gente cristã, e foram baptizadas e instruídas em nossa santa fé católica. Foram depois santas e mártires; os nomes destas santas traz o Martirológio Romano, e são os siguintes: Genebra, Liberata, Vitória, Eumélia, Germana, Márcia, Basília, Quitéria, Gema; as quais todas foram martirizadas em diversas partes.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Painel de azulejos da primeira metade do século XVIII
existente no local onde se situava a gruta de Nossa Senhora da Estrela
(representa dois passos da lenda)

 


Lenda da imagem da Senhora da Estrela
(Marvão)


1
Versão literária, de proveniência desconhecida, publicada por Possidónio Mateus Laranjo Coelho (1988) – Terras de Odiana, (2ª edição revista e anotada por Diamantino Sanches Trindade), Lisboa, Câmaras Municipais de Castelo de Vide e Marvão: 328 – 329.

 [C]onta-se que em certa noite uma estrela de extraordinário brilho e grandeza atraíra os olhares de um pastor que guardava o gado nas cercanias. Deslumbrado por tão estranha aparição afoutou-se o pastor a subir até ao alto do monte onde depois se edificou o convento, sempre guiado pela luz intensa dessa estrela, descobrindo então a imagem em um recanto das penedias que ali se acumulam.
Esta imagem esteve exposta à veneração e culto dos fiéis durante muitos anos no seu primitivo esconderijo, em um rústica e improvisada capela formada pelas próprias brenhas […].


2

Versão de Escusa (Marvão), recitada por Maria Tomásia Baptista, de 70 anos, em 1967 e recolhida por Cândida da Saudade Costa Baptista. Publicada por Maria Aliete Galhoz (1988) – Romanceiro Popular Português, volume II, Lisboa, INIC: 717.

 Nesta lapa de pedra dura,
‘Stavas bela formosura
Há tantos anos metida.
Dai-me graça singular
P’ra qu’ eu possa contar
Os milagres qu’ obravas nela.
Virgem Senhora da ‘Strela,
No tempo da mouraria
Qu’ assentiava c’ uma bela devoção.
‘Ma noit’ um pastor,
C’o seu gado recolhendo,
Baixou uma ‘strela e disse:
“Vem cá, ditoso varão,
Vem à vila de Marvão,
Cá me vem fazer ‘ma casa d’ oração.
Lá canções de finados,
Braços e olhos pintados,
Pessoas que saem tristes e desconsolados
Que esta casa vêm
Todos há-de ir remediados.”


3

Versão de Marvão, recolhida e publicada por Possidónio Mateus Laranjo Coelho (1988) – Terras de Odiana, (2ª edição revista e anotada por Diamantino Sanches Trindade), Lisboa, Câmaras Municipais de Castelo de Vide e Marvão: 328 – 329.

 Oh Virgem, oh Estrela pura,
De tão bela formosura.
Em lapa de pedra dura
Uma estrela se parou,
Clara luz s’ alumiou,
A Senhora apareceu.
Aonde vaes tu, oh Pastor?!
Aonde vaes tu, oh Verão?!
Vae à vila de Marvão
E pede com devoção
Que me venham neste sítio
Fazer casa d’ oração.
Quem estes versos disser,
Um ano inteiramente,
Saberá bem certamente
Qu’ à hora que há-de morrer
A Senhora há-de aparecer.



Lenda da Ponte da Portagem
(Marvão)


1

Versão de Portalegre, registada em 2001 por Rita de Jesus Cordas Barroqueiro (n. Reguengo, 1934) e transcrita por Ruy Ventura (2005) – Contos e Lendas da Serra de São Mamede, antologia breve, Almada, Associação de Solidariedade Social dos Professores: 81.

A ponte romana da Portagem tinha que ser feita numa só noite.
Eram quatro galos e não sabiam qual cantava primeiro. Então os mouros meteram mão ao trabalho, porque, se cantasse o galo preto, tinham que largar tudo, pois corriam perigo.
Mas por sorte cantou primeiro o galo amarelo e gritaram todos:
“Trabalha o martelo!”
E continuaram com toda a pressa. E cantou o galo pedrês:
“E toca a trabalhar a torquês!”
E ainda com mais pressa porque já tinham cantado dois galos. E cantou o galo branco e gritaram todos:
“Ainda não me espanto!”
E mais pressa tinham. Só faltava o preto que era o do perigo. E lá canta o preto.
“Oh, com esse não me meto!”
Toca a largar tudo sem tão pouco olhar para trás.
E assim sendo, conta a lenda que ficou a ponte por acabar, pois faltava colocar a última pedra.


2

Versão literária de proveniência desconhecida, publicada por Alexandre de Carvalho Costa (1982) – Marvão, suas freguesias rurais e alguns lugares, s/l, Câmara Municipal de Marvão: 33 – 34.

Diz a lenda que amofinados porque o Sever, ainda aqui simples Ribeira de Marvão, durante as quadras outonal, invernosa e primaveril, não dava fácil passagem a vau, obrigando a largos rodeios, os habitantes da região assentaram de, à custa de sacrifícios embora, construírem uma ponte.
Discutia-se acaloradamente os meios mais próprios de efectivar tão útil empreendimento, quando um cavaleiro desconhecido […] se prontificou a fazer pronta e seguramente a ponte.
Apenas punha uma condição, a seu ver de pequena monta – a entrega das almas de toda a população que nada sofreria nesta vida, aplanadas todas as dificuldades por D. Belzebut […].
Crentes fiéis de Mafoma, os habitantes pouco hesitaram na resolução. […] E Satanás, lá se deixou embair mais uma vez, aceitando a condição de que a paga, estipulada para o seu enorme trabalho, só seria devida se a ponte se iniciasse e completasse desde o pôr ao nascer do sol consecutivo.
Como homem de recursos, Lúcifer […] conseguiria triunfar se Mahomet, constantemente assediado pelos seus crentes, cuja lamúria crescia há medida do rápido progredimento da obra, se não resolvesse a intervir, extraviando a pedra que falta e impedindo que antes do nascer do sol a ponte estivesse de todo pronta.
Lenda do Rio Sever

Versão literária, com proveniência desconhecida, publicada por Possidónio Mateus Laranjo Coelho (1967), reproduzida por Alexandre de Carvalho Costa (1982) e por Ruy Ventura (2005) – Contos e Lendas da Serra de São Mamede, antologia breve, Almada, Associação de Solidariedade Social dos Professores: 75.

Em distante e já remota época, numeroso e escolhido cortejo de damas e cavaleiros, de longada para as bandas de Castela, resolve descansar das fadigas da jornada junto às margens do rio e no sítio onde mais fácil se torna a passagem a vau. Ao pretender, porém, recomeçar a viagem, quando as damas se preparavam para compor os seus vestidos e alisar os cabelos desgrenhados pelos solavancos da travessia através dos ásperos córregos e do pedregoso trilho dos rústicos caminhos viram, com desconsolada surpresa, que em nenhuma das encouradas arcas de bagagem se encontrava um espelho, objecto tão necessário às mais novas e tafús e que haviam esquecido na azáfama confusa da partida. Compreender-se-á o desespero em que esse facto lançaria as entristecidas e contrariadas damas, tão ávidas de bem parecer e para as quais o espelho é o mais dilecto, necessário e indispensável companheiro.
Diz-se mesmo que em algumas delas tal contratempo se denunciava por mal contidas e furtivas lágrimas que não passaram despercebidas ao olhar atento e enamorado de um gentil moço e garboso cavaleiro da comitiva. Pressuroso e cortês acudiu este procurando remediar a contrariedade das aflitas damas, lembrando-lhes que não havia, em verdade, motivo para se entristecerem pois que, para substituir o espelho tinham elas ali bem perto um belo rio de se ver.
Para comemorar a gentil lembrança do moço fidalgo e como prémio e agradecida homenagem à sua tão feliz e oportuna ideia puseram, então, as damas ao sítio onde haviam estado a pentear-se o lindo e romântico nome de “Porto de Cavaleiros” […].

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